Como pensar em inglês? Essa é uma dúvida comum até mesmo para quem está no nível intermediário desse idioma. O domínio do pensamento em uma língua estrangeira é essencial para ocorrer uma fala fluída.
Então, para te ajudar com isso, separei 5 segredos aprendidos na prática que vão ajudar você a pensar em inglês. Bora lá?
Simplifique
Em português há muitas construções verbais e gramaticais desnecessariamente longas e complexas. Temos o costume de enrolar na hora de falar e demoramos para chegar ao ponto. Isso não funciona em inglês!
Enrolar, enfeitar a jogada, encher linguiça, são expressões populares usadas para referir-se ao hábito do uso da retórica na linguagem. Esta tendência, frequentemente observada em português, é um vício remanescente de séculos passados, quando a linguagem escrita era uma arte dominada por poucos e a sua função era predominantemente literária. Retórica era sinal de erudição, e por vezes a forma chegava a se impor sobre o conteúdo.
~ Ricardo Schütz
A ideia a ser comunicada deve ser dividida em partes na medida do possível. Além disso, seja breve e evite o uso de palavras desnecessárias.
Note a diferença nos textos abaixo:
Impróprio:
“As a matter of fact, I’m absolutely tired. Actually that’s the reason why I don’t really want to go to the movies tonight.“
Próprio:
“I don’t want to go to the movies tonight because I’m tired.“
Viu? A segunda frase é mais objetiva, sem enrolação. Isso economiza uma energia tremenda no seu cérebro.
Comece a pensar e repetir mentalmente frases curtas já conhecidas e converse com você mesmo sobre situações corriqueiras, descrevendo o que você está fazendo.
Papagaio mental
Existe uma técnica de aprendizado de línguas criada pelo americano Professor Alexander Arguelles, chamada shadowing. A ideia é repetir frases em inglês no mesmo ritmo e entonação. Esse exercício é para ser feito na hora de praticar a fala, mas você já pode começar mentalmente. Eu chamaria de shadowing mental, mas como sombra não fala (ou fala?) eu preferi chamar de “papagaio mental”.
Quando você estiver assistindo um filme ou série em inglês, preste atenção na boca de quem estiver falando, memorize os movimentos dos lábios e da língua (só não vá beijar a TV) e fique repetindo mentalmente o que é falado.
Atenção: você precisa fazer isso de maneira ativa, não adianta ficar igual a um zumbi na frente da tela.
Além do ritmo e entonação das falas, tente perceber os sentimentos nelas expressados (ironia, raiva, medo), aproveite para reparar como algumas palavras praticamente se juntam para a fala fluir mais naturalmente – isso se chama connected speech. Veja esses exemplos:
- I want this orange > thisorange
- Next door > Nexdoor
- Meet you > meeʧu
- Social life > socialife
Caso você queira exercícios de shadowing ainda mais eficazes, siga as dicas abaixo.
Você irá precisar do seu smartphone (ou algo onde possa escutar os áudios), fones de ouvido, áudios em inglês no seu nível de proficiência (áudio mais natural possível, não esses de escola) e a transcrição do áudio.
O conteúdo ideal é de uma página, em velocidade normal, sobre assuntos que você gosta.
Siga o roteiro
- Ouça o texto uma vez. Se você não tiver ideia do que está rolando no áudio, escolha um áudio mais fácil.
- Ouça o texto enquanto você lê a transcrição, e procure quaisquer palavras que você ainda não conhece.
- Ouça o texto e repita com um pequeno atraso. Repita até que você consiga ler com confiança na mesma velocidade do áudio, então repita uma última vez e vá para o próximo áudio.
Ao terminar esse exercício, você terá certamente decorado o texto, entendendo cada palavra e frase. Se você não conseguir lembrar da maior parte do texto em algum outro momento, você não praticou o suficiente.
É, eu sei, não é fácil, mas lembre-se da maneira correta de aprender uma língua (seja materna ou estrangeira): muita escuta, muita tentativa de repetir corretamente, muita falha e, finalmente, resultados reais.
Não faça traduções literais
Não tente traduzir literalmente o que você pensa em português.
Além de não funcionar, isso cansa demais, pois você gasta um tempão pensando na frase em português, depois traduzindo para o inglês, então pensando como pronunciar cada palavra e finalmente verbalizando isso.
Lembre-se de usar as estratégias anteriores. Comece formulando frases simples com o vocabulário que você já tem. Não traduza.
“Falar é fácil, todo mundo diz isso. Eu preciso de algo que preencha a lacuna da palavra que eu sei em português!”
Então te liga na dica seguinte.
Use a memória visual e sensorial
Uma das dificuldades em pensar em inglês é justamente não ter que pensar no equivalente em português. Para superar isso, substitua a palavra em português pelo objetivo/sentimento/emoção que você conhece.
Por exemplo, ao ler “caneca vermelha” certamente vem à sua mente a imagem de uma caneca vermelha. Então, quando você ler “red mug” não pense nas palavras “caneca vermelha”, ligue diretamente ao objeto caneca vermelha.
Não é de uma hora para outra que você vai fazer esse tipo de associação, mas é importante que você faça, tanto com o vocabulário que você já conhece, quanto com novas palavras e expressões.
A comunicação tem tudo a ver com emoções e sentimentos, então toda vez que você for se expressar em inglês, traga à tona as mesmas emoções/sentimentos que você traria normalmente ao falar em português.
Abuse de sinônimos e descrições
É normal esquecer as palavras que você já aprendeu em inglês. Lembre-se: isso ocorre até mesmo em português.
Há diversos dicionários online de sinônimos que ajudam a enriquecer o seu vocabulário.
Aqui vai uma lista:
- www.thesaurus.com
- www.merriam-webster.com/thesaurus
- www.collinsdictionary.com/dictionary/english-thesaurus
E se você não tiver nenhum sinônimo na ponta da língua, lembre-se que você pode descrever o objeto/ação/sentimento que você quer expressar.
Veja esse exemplo:
Imagina que você está num restaurante em Nova Iorque almoçando com um falante nativo do idioma, mas deu aquele branco e esqueceu como falar “garçom” em inglês. E agora, José?
Fácil, peça ajuda ao seu convidado:
“I forgot how it’s called the man who serves the dishes.”
Certamente ele, ou ela, irá prontamente responder: “The waiter.”
Fácil assim. Sem julgamentos. Sem risadinhas. Mesmo conversando com um falante nativo não há razão nenhuma para nos desesperarmos.
O medo e o inglês
Só mais um papo rápido antes de concluir.
O medo de julgamento do nível de inglês é um dos grandes vilões que impedem os brasileiros de falar a língua. Por isso muitos se acomodam em ficar anos focando em vocabulário, gramática e exercícios escritos, deixando de lado a conversação.
O estudante tradicional de inglês é geralmente exposto a circunstâncias que precisa “provar” seu conhecimento da fala. Isso normalmente acontece na frente de outros alunos, deixando o estudante em situação desconfortável. Ele fica nervoso, gagueja, esquece palavras. Afinal, há outros colegas assistindo ele expôr algo que ainda não domina.
Sem um preparo emocional e uma mudança de mindset, falar é a última coisa que ele espera fazer em uma sala de aula (ou fora dela).
E os resultados na hora que precisa usar o inglês? Medo, “branco”, “trava”, frustração…
A falta de confiança em um assunto que não se domina é natural, em qualquer área, por isso a importância da prática. Inglês não é nada mais do que uma habilidade a ser aprendida, aperfeiçoada e dominada com excelência, mas para isso é necessário estratégia e planejamento. Ou você passará muito tempo à deriva nesse mar linguístico.
Enfim, espero que estas dicas tenham ajudado você a começar a pensar em inglês. A consequência de conseguir pensar em inglês é uma fala natural, ou seja, fluente.